O Estado de Alagoas e o Brasil como um todo viram-se obrigados a "mergulhar" abruptamente no novo mundo globalizado repleto de inovações inesperadas, algumas até inoportunas, principalmente se levarmos em consideração o nosso subdesenvolvimento político e social. Muitas pessoas que desenvolviam trabalhos mecanizados empiricamente, à exceção dos mecânicos e eletricistas de autos, por imposição da nova tecnologia movida a computadores, perderam, inapelavelmente, seus meios de trabalho decentes e tornaram-se, repentinamente, excluídos do mercado de trabalho formal.
O brutal e desumano desenvolvimento do capital a nivel mundial, muitas vezes às custas da exploração dos trabalhadores, tem provocado graves deformações nas vidas das populações subalternas dos países subdesenvolvidos, como é o nosso caso. Essas desigualdades socioeconômicas atestam que nem todas as pessoas têm acesso aos direitos sociais básicos e, portanto, são marginalizadas. É neste cenárioprovocado pelo inconseqüente e desmedido crescimento tecnológico, negado à maioria dos habitantes dos países submetidos a processos lentos de desenvolvimento, que se massificaram, desplanejadamente, as organizações informais - as pessoas desesperadas com a perda da atividade formal partem, sem quaisquer conhecimentos técnicos, para aventuras comerciais e, facilmente, são trucidadas pelo mercado voraz.
Em 1992, aqui em nossa capital, surgiu um novo modelo empresarial, modestamente organizado, numa tentativa de inclusão social das pessoas que sobreviviam abaixo da linha da pobreza: as autogestões de cooperativas de reciclagem do lixo. A pioneira nesse novo tipo foi a Associação dos Moradores do Bairro da Pitanguinha (Ampita); a cooperativa sobrevive, hoje, precariamente naquele bairro; outras surgiram depois: a Cooplum (Cooperativa dos Recicladores de Lixo Urbano de Maceió) no ano de 2001, que foi idealizada pelos moradores da Vila Emater e formada pelos catadores do antigo lixão de Cruz das Almas e a Cooprel (Cooperativa de Reciclagem de Alagoas) que foi fundada em 2004, formada por antigos funcionários da extinta Coobel e que não conseguiram aprovação no concurso público para garis e margaridas naquele ano.
Contrário a quaisquer entendimentos e compreensões racionais e humanísticos, os cooperados sobrevivem precariamente, com algumas ajudas governamentais, é bem verdade, porém insuficientes para emancipá-los social e economicamente. Para termos uma idéia mais clara da situação, as retiradas mensais nessas cooperativas não ultrapassam a metade de um salário mínimo.
Urge que a sociedade, ao se conscientizar da importância do correto descarte do lixo e do trabalho dos catadores, cobre dos gestores governamentais um maior apoio para que as cooperativas de reciclagem cumpram as suas missões e seus cooperados realizem a tão sonhada emancipação humana.
(REUBENS MÁRIO)
Professor do Cesmac
Publicado no jornal Tribuna Independente no dia 05/11/2010, Primeiro Caderno, página 6 (com adaptações feitas pelo editor deste blog).
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