0009 - São Paulo enterra rios e agrava enchentes
40% estão sob o asfalto em avenidas como a 23 de Maio (EDUARDO GERAQUE)
São Paulo tem aproximadamente 40% de seus rios enterrados. Avenidas como 23 de Maio, 9 de Julho, Bandeirantes, Berrini e Vicente Rao escondem corpos de água “fantásticos”, diz o engenheiro Aluisio Canholi, especialista em macrodrenagem. No total, são 650 km de antigos riachos ou grandes rios que estão encaixotados.
Por causa dessa escolha, além da ocupação quase sempre legalizada de várzeas e da alta impermeabilização, é que as enchentes ocorrem. Como ele diz, é o mesmo que uma estrada. Antes sinuosa, agora ela é reta. Conclusão: o congestionamento ocorre no final dela. No caso dos rios, tudo acaba no Tietê.
As canalizações sempre ocorrem com a retificação. Nos anos 1970, o rio Aricanduva, quando desembocava no Tietê, tinha uma largura três vezes maior.
“São Paulo não pode mais pensar em canalizar seus grandes rios, sob pena de aumentar as enchentes”, afirma o engenheiro, diretor da Hidrostudio Engenharia e coordenador técnico do Plano de Macrodrenagem do Tietê. Para ele, apenas devem ser feitas as que estão previstas no plano, feito há dez anos, e que está com sua implementação muito atrasada -menos da metade dos piscinões previstos, por exemplo, estão em funcionamento.
Para a ambientalista Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, o problema das canalizações não é apenas aumentar a velocidade das água em direção ao Tietê. “Essas obras também escondem toda a sujeira que é jogada nestes lugares”, diz.
Se do ponto de vista utópico um rio poderia até voltar a fluir se fosse liberado do concreto, do ponto de vista prático, a solução passou a ser os piscinões. “Funcionam como várzeas artificiais”, diz Canholi.
No caso do Tietê, que na quinta voltou a parar São Paulo, continuar com a construção dos piscinões em cada uma das bacias que deságuam nele é uma das poucas saídas possíveis.
“Mas a várzea do Tietê, antes da Penha, ainda pode ser preservada com a construção de um parque linear”, diz o especialista, que está projetando esta obra para o governo.
Publicado no jornal Folha de São Paulo em 24/01/2010, no caderno Cotidiano, página C5
Alguns posts atrás, comentei rapidamente sobre os perigos da crescente impermeabilização em cidades - especialmente grandes cidades.
Aqui em minha cidade, Maceió, temos o caso clássico do bairro da Levada. É um bairro onde ficava um grande mangue (ainda há resquícios dele), com lençóis freáticos bem baixos e margeado pela lagoa Mundaú. Com atitudes governamentais não muito bem pensadas e uma ocupação urbana sem controle, a área foi toda impermeabilizada. A equação se tornou "área de várzea + impermeabilização + solo lodoso + alta densidade populacional + época chuvosa" - resultados?
1) O solo lodoso, típico de mangues, não serve para construções habitacionais, porque o solo é FOFO, e abaixo dele há ÁGUA e AR. Acaba sendo a mesma coisa que pisar na areia molhada da praia - os nossos pés afundam... o mesmo acontece com muitas casas da região - com o agravante de rachaduras nas estruturas e tudo o mais.
2) quando há chuva, a água costuma penetrar no solo e procurar os lençóis freáticos - por isso que as áreas são chamadas DE VÁRZEA. Áreas de mangue são ideais para tal atividade do solo (além de outras questões ambientais, nas quais não entrarei para não ficar muito comprido). Com o advento da impermeabilização, a água fica impedida de retornar ao solo, ficando EMPOÇADA. Com a época de chuvas, uma grande quantidade de água acaba empoçada - o que se pode chamar de ALAGAMENTO.
Isso se repete por outros pontos da cidade, logicamente, mas citei o da Levada por ser um ponto que, além de eu ter estudado com afinco, se tornou emblemático para a cidade - todos os telejornais locais vão para lá nas épocas chuvosas.
Voltando ao foco em Sampa... Logicamente que uma megalópole tem os mesmos problemas que uma metrópole regional como Maceió - e em se tratando de um país como Brasil, em escala aumentada.
A questão de se "enterrar" rios não é nova na história da urbanização. Aparentemente decorre da ambição humana de tentar dominar a natureza, além de ganhar espaço para fazer construções e abrigar o maior número de pessoas - alguém lembrou de construtoras?
A contrapartida vem sempre de formas catastróficas: nos tempos de cheias, não raro as águas acabam por forçar as fronteiras até destruí-las; nos tempos chuvosos, inundações e enchentes.
Não é de hoje que o prefeito Kassab aparece na televisão para ficar falando do modo que se deu o crescimento urbano de São Paulo. Não dá para culpá-lo por isso, ele tem razão. Mas, como Prefeito, o dever dele é se juntar a um bom time de urbanistas, engenheiros, outros especialistas - mais a população - e rever a situação. Alguma solução tem que ser dada ao caos que está acontecendo neste verão.
E vocês, o que acham?
Marcadores: #culturadigitalbr, Enchentes, Folha de São Paulo, Notícias, Rios, Urbanização
2 comentários:
Parabéns Tom,você fez um ótimo trabalho.
E pela sua capacidade de publicar assuntos importantes sobre São Paulo.
Na minha opinião, o grande problema de São Paulo foi a grande preocupação em só construir... esquecendo de questões de escoamento em casos de fortes chuvas. Tá aí o resultado.
Em maceió o problema pode ter sido o inverso. A falta de procupação com a infraestrutura em tempos atrás. Agora a maior preocupação era a desprocupação do passado. Muitoo bem Tom!!! Ótimo texto!
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